segunda-feira, 16 de março de 2009


Em Atos 17.10,11 (e seu contexto) vemos que os crentes de Beréia ouviam homens como Paulo e Apolo e mesmo assim examinavam as Escrituras para verificar até que ponto aqueles pregadores estavam certos. E olha que um era poderoso nas Escrituras (At 18.24) e o outro ensinava o que recebia do Senhor (1 Co 11.23)!
Os bereanos foram considerados mais nobres do que os crentes de Tessalônica, que também (obviamente) eram nobres (cf. 1 Ts 2.13), porque, além de receberem a pregação de bom grado, a submetiam ao teste da Palavra de Deus. Por isso, o objetivo desta série de artigos é incentivar o leitor a examinar as Escrituras e interpretá-las corretamente.
Neste artigo abordarei a importância de não alegorizarmos os textos literais, ainda que nos pareçam estranhas as suas significações. Se, por um lado, os textos alegóricos precisam ser identificados e interpretados à luz do contexto, as passagens literais também requerem cuidados especiais. Caso contrário, grandes verdades poderão ser transformadas em narrativas alegóricas.
A teologia liberal (segmento que se ocupa do estudo meramente racional da Bíblia) alega que episódios como a história de Jonas devem ser entendidos como alegorias, e não como acontecimentos históricos. Mas, como explicar o fato de pessoas imaginárias (salvas da destruição de Nínive por meio de uma mensagem fictícia) se arrependerem de forma imaginária para condenar pessoas reais? Leia agora Mateus 12.41.
É claro que o exemplo acima é extremado, constituindo-se apenas em um alerta para os servos de Deus que primam pela verdade bíblica. Mas erros semelhantes, com implicações menores, estão ocorrendo em nosso meio. Muitos ensinadores têm alegorizado passagens literais com o objetivo de suavizá-las.
1) O holocausto da filha de Jeftá. Alguns teólogos dizem que a palavra “holocausto” (hb. olah, “oferta inteiramente queimada”), empregada em Juízes 11.31, é figurada, expressando apenas uma entrega dedicatória a Deus. Todavia, não há no contexto imediato margem alguma para tal afirmação. Jeftá votou um voto e o cumpriu cabalmente (Jz 11.39,40). Qualquer interpretação diferente é mera especulação, sem nenhum fundamento exegético.
2) O casamento de Oséias. Muitos autores de comentários bíblicos afirmam que Oséias não casou com Gômer, uma prostituta (Os 1.1-3). Para negar o fato bíblico, dizem que foi um casamento simbólico, sem, contudo, indicar os versículos do livro que apóiam tal pensamento. Até mesmo os editores da Bíblia na versão Almeida Revista e Corrigida (ARC) inseriram precipitadamente a epígrafe: “Casamento simbólico de Oséias”. Mas o contexto não deixa dúvidas da veridicidade da narrativa. O livro menciona os nomes da mulher, de seu pai e dos filhos de Oséias (Os 1.3-9). Além disso, narra detalhes dos nascimentos dos filhos do profeta (Os 1.8), tal como ocorre em passagens literais (cf. Gn 21.8; 1 Sm 1.24). Esses elementos mostram que a narrativa é incontestavelmente literal.
Por que fazer polêmica diante de passagens tão claras à luz de seus contextos? Em seu livro Princípios de Interpretação da Bíblia, editado pela Mundo Cristão, Walter A. Henrichsen orienta: “Quando você encontrar uma passagem para a qual o contexto indica uma interpretação literal, e você preferir dar-lhe uma interpretação não literal, avalie cuidadosamente os seus motivos” (p.37).
Henrichsen continua: “O que o levou a essa conclusão? O desejo de não fazer o que a Bíblia manda, ou o desejo sincero de agradar a Deus e cumprir os Seus mandamentos? (...) Se a sua conclusão é resultado da sua tentativa de fazer Deus comportar-se como você acha que Ele deve comportar-se, outra vez está errada toda a sua abordagem da interpretação. Você é servo de Deus. A sua tarefa é entender quem Ele é e o que Ele espera” (idem, pp.37,38).
Portanto, para interpretar a Bíblia corretamente, é preciso, antes, ser um assíduo leitor da Palavra de Deus. A leitura de bons livros é obrigatória em um mundo que evolui de forma tão rápida, mas não podemos nos esquecer dos “pergaminhos” (2 Tm 4.13). Dedicar tempo à leitura de livros e até deste blog (mesmo que sejam bons) em detrimento da Bíblia significa não aproveitar bem o tempo. Leia livros, artigos, mas não se esqueça da Palavra (1 Tm 4.13; 2 Tm 3.16,17).

(continua...)

Ciro Sanches Zibordi

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