segunda-feira, 27 de abril de 2009

Música no culto ou culto à música? (4)

Nesta quarta parte da série respondo a mais três perguntas. Você sabe qual é a diferença entre louvor e cântico? Existem restrições na Bíblia quanto ao uso de instrumentos musicais? O que é a música gospel, afinal?

9 - Há diferença entre louvor e cântico?

Segundo as Escrituras, há distinção entre o louvor e o cântico de louvor (Sl 149.1). Quem de fato canta louvores está louvando a Deus, mas é possível louvar a Deus sem cantar, e cantar sem louvá-lo. O louvor, conforme Salmos 103.1,2, envolve tudo o que há em nós: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há mim bendiga o seu santo nome”.
As palavras de louvor devem nascer em um coração preparado (Sl 57.7), pois o cântico é apenas um meio de se louvar a Deus (Sl 69.30), e não o louvor, em si. Louvar a Deus é glorificá-lo, honrá-lo, com tudo o que há em nós, espírito, alma e corpo (1 Ts 5.23).
Por conseguinte, é possível alguém cantar bem, tecnicamente, valendo-se inclusive de letras cristãs, sem, no entanto, louvar o Senhor. Isso aconteceu nos dias do profeta Isaías: “Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim...” (Is 29.13).

10 - Que instrumentos devem ser usados?

A Bíblia não proíbe o uso de nenhum instrumento. Ela menciona inclusive diversos tipos: de sopro, de percussão, etc. (2 Cr 15.14; Sl 98.6; 150.4,5). Apesar disso, é importante que pastores e líderes de louvor atentem para o fato de que certos instrumentos — em razão de serem empregados em cultos afro-brasileiros e estarem intrinsecamente associados a cultos oferecidos a falsos deuses — não combinam com o culto a Deus. O bom senso ajuda bastante, nesse caso (1 Co 6.12).
Em regra geral, o que importa para Deus é quem toca e como toca (1 Sm 16.7; 2 Rs 3.15-20; Sl 33.3). Conquanto a Escritura não apresente proibições expressas, o uso exagerado dos instrumentos eletrônicos e de percussão prejudica o louvor.
No louvor a Deus, em um culto, os instrumentos devem ser bem tocados, suavemente, sem exageros, sem excesso de volume. O músico cristão deve ter sempre em mente que a sua missão é compor e tocar músicas adequadas para o louvor, ou seja, hinos espirituais que, em nenhum momento, desviem a atenção das palavras de louvor.

11 - O que é música gospel?

A palavra gospel, em inglês, significa “evangelho” ou “evangélico”. Como estilo musical, foi usada na década de 1920 por Thomas A. Dorsey, cantor de blues da Geórgia (EUA) e filho de um pastor batista. Mas a origem do gospel rhythm remonta ao final do século XVIII, quando escravos africanos adaptaram hinos religiosos, injetando neles vários elementos de sua tradição musical.
No século XIX, o gospel chegou à terra americana junto com os escravos e passou a ser chamado de negro spirituals, um tipo de blues sacro. A semelhança entre os ritmos era tão grande que muitos cantores da época começaram a carreira cantando o negro spirituals em igrejas protestantes.
Entretanto, é importante distinguir o gospel surgido nos EUA do sincrético estilo utilizado nos dias de hoje. O primeiro era um tipo de blues, que veio a determinar o estilo da “música cristã” norte-americana, enquanto o gospel hodierno abarca diversos ritmos (rock, funk, rap, axé, samba, etc.) com letras supostamente cristãs.
Em outras palavras, hoje, no Brasil, qualquer música pode ser considerada apropriada, “gospelizada”, desde que fale de Jesus ou da Bíblia. Aliás, hoje em dia, para ser considerada música gospel, basta falar de sonhos, de fogo, de vento ou empregar bordões do tipo "Deus vai mudar a sua história"...
Na verdade, a chamada música gospel tocada nas igrejas e nas rádios evangélicas está carregada de agressividade e barulho, e tem pouco ou nenhum conteúdo bíblico. Alguns cantores evangélicos, com uma postura de quem quer demolir o mundo, afirmam que fazem tudo para a glória de Deus, ignorando o que está escrito em Colossenses 3.16. Mas a Bíblia é muito clara a respeito do cântico que deve estar em nossos lábios (Sl 96.1; Is 42.10).
Em Levítico 9.23–10.2, mencionam-se três tipos de fogo. Deus manifestou-se por meio do “fogo da sua glória” (9.24). Nadabe e Abiú, filhos de Arão, trouxeram um “fogo estranho” (10.1) ao santuário, e o Senhor os castigou com o “fogo do seu juízo” (10.2). Que seria esse “fogo estranho”? Falta de reverência? Vasos sujos? Sacerdotes em pecado? Culto simultâneo a deuses estranhos? Incenso estragado?
Utilizar estilos musicais impróprios para o louvor a Deus é o mesmo que usar “fogo estranho”: algo que o Senhor rejeita, abomina. E é isso que temos visto nesses últimos dias, em que os interesses comerciais falam mais alto do que as verdades da Palavra de Deus (2 Co 2.17; 2 Tm 3.1-5; 4.1-5).
Que o Senhor Jesus Cristo nos ajude a entender que, para segui-lo, é preciso negar-se a si mesmo, abandonando preferências pessoais, gostos, caprichos, a fim de fazermos a sua vontade (Lc 9.23; Rm 12.1,2).

(continua...)

Ciro Sanches Zibordi

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