segunda-feira, 4 de maio de 2009

Música no culto ou culto à música? (5)

Caros internautas, nesta quinta parte da série “Música no culto ou culto à música?”, abro um parêntese para responder a uma pergunta do irmão Filipe, que mora nos Estados Unidos, a qual, sem dúvidas, é do interesse da maioria. Trata-se, pois, da décima segunda pergunta respondida nesta série.

12 - “Pastor, eu tenho uma dúvida, pois sempre que, em minha igreja, estamos debatendo sobre ritmos musicais, é feita a pergunta: E se alguém se converte na África? Vamos forçá-los a ouvir o que nós consideramos cristão, ou deixaremos que ele louve a Deus com os seus tambores e tudo que nós consideramos consagrado a espíritos? Eles também falam sobre se uma pessoa que cresceu ouvindo sertanejo ou samba. Quando ela se converte, por que não deixá-la ouvir isso agora, mas em adoração a Deus? E, para matar dois coelhos com uma cajadada só, eu recebi seu e-mail de quando o senhor estará aqui em Boston. Se possível, eu gostaria de adquirir o livro com o senhor, pois moro há duas ou três horas de Boston”.

Caro amigo Filipe, a paz do Senhor Jesus!
Comecemos pelo segundo “coelho”... Se Deus quiser, em julho estarei em Massachusetts e Flórida. Até lá conversaremos para ver como podemos nos encontrar, ok? Peço a você e a todos os irmãos internautas que orem em meu favor quanto a esse propósito. Quanto ao segundo “coelho”, terei de usar vários “cajados”. Risos...
Reconheço que a sua pergunta é difícil, principalmente se a analisarmos pelo lado inverso. Como assim? Se procurarmos respondê-la à luz do raciocínio humano e das preferências e gostos pessoais, tudo fica mais difícil. Afinal, não é o evangelho que se adapta ou se amolda aos nossos desejos, vontades, sentimentos, e sim o ser humano que deve obedecer aos mandamentos e princípios da Palavra de Deus.
Por graça de Deus, uma das matérias que tenho ministrado é a missiologia, na qual estudamos as missões transculturais, considerando costume e cultura dos povos, e as estratégias para implantação de igrejas em outros países. E é claro que, até certo ponto, temos mesmo de respeitar os costumes e cultura de cada etnia, a fim de se implantar igrejas autóctones, isto é, que respeitem as tradições locais — até certo ponto! —, mas sem modificar a mensagem transformadora do evangelho.
Muitos hoje afirmam que Deus tem uma visão para cada povo e cultura. No entanto, quando estudamos a Bíblia sem preconceito, vemos que, ainda que alguma contextualização ou transculturação tornem-se necessárias, não é o evangelho que deve aculturar-se, e sim o inverso. Isto é, não somos nós que temos de levar para dentro da igreja as nossas preferências, e sim permitir que os nossos gostos sejam moldados segundo a vontade de Deus (Rm 12.1,2; Lc 9.23).
Você poderá dizer: “Ah, então ser cristão significa ter a própria vontade anulada?” Em certo sentido sim, mas isso não denota prejuízo algum, haja vista ser a vontade de Deus o melhor para as nossas vidas! O texto de Romanos 12.1,2 enfatiza que a vontade de Deus é boa, perfeita e agradável. Quanto mais nos aproximamos do Senhor, percebemos o quanto é maravilhoso andar segundo os seus mandamentos e princípios. Leia — mesmo! — os Salmos 1 e 119.
Falando em África, há lugares em que é normal, cultural, o homem possuir várias mulheres. Vamos adaptar o evangelho a isso? Claro que não! Devemos ser cuidadosos quanto à influência da cultura e da secularização sobre a simplicidade do evangelho (2 Co 11.3; 1 Jo 2.15-17; 2 Co 4.4; 2 Tm 4.10).
O brasileiro tem samba no pé, não é mesmo? Vamos implantar o samba dentro das igrejas por causa disso? Claro que não! Muitos líderes fazem isso porque só pensam em quantidade de pe$$oa$, e como agradá-las, ignorando o que está escrito em Mateus 7.13,14,21-23.
Quem se converte na África, no Brasil ou na Europa tem de se submeter ao Senhor Jesus e ao seu evangelho, e não o inverso. Estude Atos 15. Neste texto sagrado vemos como a igreja primitiva tratava dessa questão. Não temos de forçar ninguém a nada. O que todos devem fazer é respeitar a Palavra de Deus, e quanto à música no culto a Bíblia é clara (Cl 3.16; Ef 5.18,19).
Jesus não obriga ninguém a segui-lo, porém segui-lo envolve renúncia (Mt 16.24; 1 Pe 2.21; 1 Jo 2.6). A música não é neutra. E, se o barulho dos tambores tem uma finalidade no culto aos deuses, como poderemos agora naturalmente incorporar isso ao culto a Deus? Vamos agir como o imperador Constantino, que introduziu uma série de práticas pagãs no cristianismo, ignorando o evangelho de Cristo? Até hoje vemos as conseqüências desse seu erro na igreja romana.
Quanto à pessoa que cresceu ouvindo sertanejo ou samba, ela que se converta a Cristo de verdade e saiba que uma coisa é gosto musical, e outra, bem diferente, é o estilo musical apropriado para o louvor na casa de Deus.
Como se vê, a pergunta do irmão é bem difícil, e eu, em vez de matar dois "coelhos" com uma "cajadada" só, tive de dar várias "cajadadas" em um "coelho gigante"... E isso em plena época de páscoa, comemorada, segundo a cultura pagã que vigora no Brasil, com ovos e coelhos de chocolate...

Em Cristo,

Ciro Sanches Zibordi

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